segunda-feira, dezembro 12, 2011

Cheiro a frio...

          Gosto deste tempo. Gosto do frio, deste nevoeiro invadido pelo cheiro a queimadas. Gosto deste cheiro a tabaco inebriado pela neblina que me cega. Dou passos sem ver o que piso, vou percorrendo caminhos sem saber onde vou. E todo este clima é misterioso e me seduz para dentro de si. São épocas melancólicas. De uma melancolia que me enche o coração. É nesta altura que me sinto abraçada pelo mundo, pela vida. O cheiro... ah como eu venero o cheiro das ruas ! Este cheiro tão característico de Lisboa. Quer seja o fumo do assador de castanhas, quer seja o do cigarro daquela pessoa sentada na esplanada do café. O café... o cheiro de um galão bem quente acompanhado pelo cheiro dos bolos que se manifestam nas montras. É tudo tão enfeitiçante. Cheira a frio!
          Há momentos retrospectivos nesta altura do ano. Não porque o Natal esteja à porta e de repente todos se lembrem de ser boas pessoas, não porque o ano esteja a acabar e eu tente rever todos os erros que cometi este ano para não os voltar a repetir no próximo, não. Nada disso. É neste altura do ano em que, abraçada por este frio e estes cheiros reconfortantes, me encontro em mim. No resto das estações eu perco-me no frenesim, na euforia, nas idealizações dos outros. Agora focalizo-me em mim. Sou eu e o nevoeiro. Sou eu e mais alguém que não vejo. Sou eu, simplesmente eu, sem artificios ou poses politicamente correctas. Sou eu despida de preconceito, só eu e este nevoeiro branco.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

entranhas... o que resta delas

Estou partida. Estou sem vida. Sou um farrapo velho sem alma e coberto de feridas. Perdi-me. Deixei-me perder. Sinto-me encurralada, e aqueles, aqueles que dizem que estarão sempre por perto, não os estão. Foram os primeiros a abandonar o barco. Eles culpam-me pelos seus azares, e eles não me protegem. Na realidade obrigam-me a sujeitar-me a uma, e outra violação do meu ser. Eu sou um produto com defeito. Eu não tenho arranjo. Eu estou desfeita e não me consigo recompor. Sinto-me uma criança abandonada. Ninguém quer saber...  e eu vou ficando insensível à vida. Neste momento a vida doí demasiado. 

sexta-feira, novembro 18, 2011

grrrgrrr

É impressionante... impressionante como a felicidade pode ser escassa. Como a ingenuidade pode levar a caminhos obscuros e como nos esmagam por dentro pessoas que cada vez julgamos mais não ser nada para nós. Mas são um nada que magoa. São uma nada que destrói.
Odeio. Odeio tudo isto. Cada vez quero mais estar longe daqui. Ainda que haja algo que me prenda a este lugar, algo que não compreendo porque isto é tudo tão cruel, eu quero sair daqui. Quero desaparecer daqui. Quero ser livre destas pessoas, quero ser livre desta negatividade, deste pessimismo, desta falta de amor.
Estou farta de gritos de odio que me fazem chorar, estou farta de faltas de respeito que me fazem estoirar, estou farta de ressentimentos que nunca irão passar. esrtou farta de me sentir deslocada daqui. estou farta, simplesmente isto, farta.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Pensar ...

          O que separa as minhas memórias do meu coração, não é mais do que uma negação do pensamento. Se não pensar, as memórias não existem. Se não pensar as memórias não passam de caixas de sapatos com fotografias antigas em tons de melancolia, rebuçados de felicidade embrulhados em gargalhadas, bilhetes de cinema inebriados em fantasia, músicas enfeitiçantes, sorrisos calorosos agrafados a situações indescritíveis. Se eu não pensar as memórias não passam de cartas que tu me escrevias, onde as tuas palavras me faziam chorar e me enchiam o coração. Se não pensar a tua existência torna-se nula. Se não pensar, não irei ceder à tentação de processar sentimentos tentado arranjar explicações lógicas para o irracional. Se eu não pensar, eu não existo, e se eu não existir eu não penso em ti.

domingo, novembro 13, 2011

E se eu for um sonho... ?

E se eu for um sonho? E se eu for um simples e mero sonho que alguém teve numa noite mais confusa? E se eu não passar da fantasia de alguém? E se eu viver a realidade de outrem, mesmo não sendo verdadeiramente alguém?...
E se, e se, e se… E se o mundo fosse fantasia, ele talvez fosse perfeito. Mas o que é perfeito, não é bom! Não ensina. Não magoa para ensinar. Não ensina a sofrer para depois ensinar a parar de chorar.
Chorar… Porque será que cada vez que o coração sente algo que não é em vão, se chora mesmo por vezes querendo que não? Choro assim quando caio na calçada, quando corro desalmada e acabo por tropeçar nos meus próprios pés… Contudo, mesmo caída no meio da estrada, parecendo desamparada e envergonhada, chega, sorrateiramente, quem nós, lá no fundo, eternamente esperávamos. A voz amiga que faz com que a vergonha passe, que faz com que eu olhe outra vez para o céu, e pense que vale a pena viver mais um dia. Nem que seja mais um dia na minha fantasia, na minha imperfeita, mas autêntica, realidade…. 

sábado, novembro 12, 2011

Citações

"Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo." 
Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, novembro 07, 2011

Inverno pouco solarengo

        Um novo dia começou. Não me sinto revitalizada mas sinto-me melhor do que ontem e esperemos que pior que amanha. A reabilitação começou. Iniciou-se uma nova fase. Começaram os dias frios, os meus favoritos em tempos, aquela brisa que cortava a respiração, os casacos e camisolões que me consolam juntamente com um galão bem quente pela manha e o final da tarde. Aqueles dias em que, logo pelo inicio da manha tu me abraçavas, me acolhias carinhosamente dentro do teu casaco enquanto eu punha os meus braços à tua volta e jurava não te largar. Aqueles dias em que tu, mesmo sabendo o resultado, ficavas super chateado quando te ia dar um beijo na cara com o meu nariz gelado. Aqueles dias em que tu seguravas nas minhas mãos calorosamente, e ficavas a olhar-me nos olhos . . . trocávamos pensamentos. Tínhamos longas conversas em que bastava olharmos um para o outros, longas conversas, as melhores, em que não tínhamos que dizer uma única palavra para nos entendermos. Eu costumava gostar de dias frios, terrivelmente frios, mas hoje em dia o frio tornou-se insuportável por aguçar a minha saudade de ti.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Aprisionamentos

        Sinto-me a sufocar entre estas quatro paredes, sinto-me fora de mim. Há imensa gente à minha volta, é uma multidão imensa, e estas quatro paredes são tão imensamente pequenas. Gosto de ser eu comigo mesma, gosto de estar cheia de mim. Mas eu mão consigo ser eu se tiver que ser livre de mim.
        Estas pessoas não me conhecem, estas pessoas não sabem quem sou mas estão constantemente no meu caminho, aprisionando-me, tornando os dias dificeis de suportar e fazendo com que eu me encha de ódio, de raiva... Fico com pensamentos absurdos dentro de mim.
        Eu juro que me sinto presa, juro que a sensação de me estarem a prender os braços com a maior força possível, impedindo-me de mexer, é real. O sofrimento é real. Eu sinto as amarras em mim, apertando os meus braços contra o meu corpo. Os olhos começam a flamejar e começam a encher-se de rios de revolta, mas também de cansaço. Porque é que eu não me sinto em casa, estando em casa? Eu não pertenço aqui. O mais ínfimo vestígio de felicidade, de contentamento, de bem-estar, é aniquilado pela atitude destas pessoas. Matam-me o espírito e só me sinto bem fora daqui.
        De repente a minha casa torna-se tudo o resto. Torna-se o mundo envolvente. E nesta minha casa, existem quartos mais obscuros. São quartos obscuros de liberdade. Mas são uma liberdade dependente. Eu entro  nestes quartos e torna-se difícil sair, porque o bem estar, a alucinação, a felicidade e despreocupação são sensações difíceis de deixar. Torno-me então dependente delas. Eu não quero sair daqui. Aqui tudo parece mais fácil, aliás, não parece, é. Porque aqui não me sinto aprisionada aos pensamentos cruéis que eles infligem em mim. Aqui deixo a minha mente solta e sou quem eu quero ser. Aqui os meus pensamentos não são absurdos, nem a minha felicidade demasiada. Aqui o mundo é pintado em tons de azul, lá é tão escuro e reprimido que não se vêem cores.

domingo, outubro 30, 2011

Sonhos vãos

        Estou sozinha. Sentada no chão do meu quarto, de olhos postos no passado que jurei fechar a sete chaves. Não sei que fazer... já sem abrir a "arca do que já foi" o meu peito se enche de mágoa e de saudade. Sim, saudade. Tenho saudade de um passado que já foi e não volta. De um ontem que não se pode mudar porque tu destruíste tudo. Tu arruinaste tudo. Estragas-te tudo. Como é que o pudeste fazer? Eu não entendo... De um dia para o outro a transformação foi enorme. Pelo menos aos meus olhos. Fizeste-me a mim o que eu nunca pensei que pudesses fazer a quem quer que fosse. Foi como se um irmão me traísse. E custa a imaginar a traição de um irmão, pois o que nutrimos por um irmão era o que eu pensava nutrir por ti - amor incondicional. Acontece que o meu amor afinal não era assim tão incondicional. Ele impunha limites que tu ultrapassaste ao desprezares-me,  humilhares-me, pisares-me.
        Eu tentei a indiferença, eu tentei o esquecimento, eu tentei anular a tua existência no meu mundo. Acontece que isso não é possível. O tempo, aquele que dizem curar todas as feridas, só tem piorado a situação. Com o tempo percebo que não vais voltar atrás, que eu não irei conseguir voltar atrás. No entanto, eu queria que tudo voltasse ao que era. Mas é impossível. É impossível esquecer tudo aquilo em que tu te tornaste e todo o cenário que tu montaste. Acontece que aquela voz que dizia que nada nos iria separar ainda me persegue em sonhos vãos.
        Agora sinto-me presa a um vazio. Um vazio não sei de quê. Sinto-me tão cheia de nada que me sufoco.

sábado, outubro 29, 2011

mais um cigarro

Acendo um cigarro. Deixo-me simplesmente a inalar a despreocupação que ele emana. Sinto-me leve... é como se flutua-se sobre a ilusão que a vida é. Em cada travo a minha mente desprende-se do meu corpo e o meu desejo de ti esmorece. De repente sinto-me calma, relaxada, desprendida de tudo. A ansiedade de saber algo de ti, de te ter perto de mim, desaparece. O fumo impede que as lágrimas escorram, impede os movimentos involuntários que o meu corpo faz para correr atrás de ti. Em certas alturas faz-me não pensar em ti. Fico anestesiada. Fico insensível a ti.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Mais do mesmo...

       Eu quero-te de volta na minha vida, mas não consigo confiar em ti. Quero-te de volta mas não assim. Nem sei do que tenho saudades se tudo, no fim, era mentira ! Se no fundo tu nunca quiseste saber. Se todos estes anos não valeram de nada e eu fui apenas mais um meio para chegares a um fim.
        "A ironia da dor é querer que a pessoa que nos magoa seja a que nos consola", e a minha dor é bastante irónica... Porque tu fizeste tudo o que podia ser feito para deixares desfeita, desorientada e vazia, mas mesmo assim sinto a tua falta. Ainda que, agora, saiba que tudo não passou de uma mentira, a tua cínica preocupação, o teu cínico abraço, o teu cínico beijo na minha testa, na altura pareceu-me tão sincero. E eu tenho tantas, mas tantas saudades de sentir os teus braços a volta do meu corpo. Parecia tudo tão sentido que me fazia sentir segura, protegida.... Faça frio ou faça calor, eu nunca consigo dormir destapada. Tenho sempre que ter algo a cobrir-me o corpo. Preciso de me sentir protegida. Tu eras o meu cobertor nas atribulações da vida. Agora és a música no meu telemóvel que passo sempre à frente para não ouvir, mas que não sou capaz de apagar; És o numero no telemóvel que finjo não ter, mas que também não sou capaz de apagar; És a pessoa nas fotografias que finjo não conhecer. És a quem associo todas a frases mais sentidas dos livros. És a pessoa sobre a qual eu não consigo falar e que insiste em estar constante na minha vida. Por muito que tente evitar a tua presença está sempre manifesta em alguma coisa do meu dia-a-dia. Não te ter na minha vida foi como aprender a viver novamente, mas eu não vivo plenamente, eu quase que vivo... e "quem quase morreu está vivo, quem quase vive já morreu". Eu morri por dentro. Por muito que me custe a admiti-lo parte do que eu era, eras tu. Porque eu concentrava mais a minha atenção nas preocupações da tua vida do que nas preocupações da minha. Porque tu fazes parte de mim à quase uma vida inteira, e eu não consigo apagar esse facto.
        Ainda que eu ache que não te consigo ter novamente na minha vida, ainda que olhando para trás tenha a certeza que me usaste, da pior maneira possível, há algo em mim que me diz que mesmo assim houveram abraços sentidos, verdadeira preocupação da tua parte para comigo. Quer dizer... algures pelo caminho tu realmente gostavas de mim, certo? Eu realmente era a tua menina e tu afastavas os meus fantasmas. Algures pelo caminho nós fomos realmente como irmãos... certo?

quarta-feira, outubro 26, 2011

Odeio-te

        Odeio-te. Odeio-te porque me mentiste. Odeio-te porque me fizeste promessas vãs. Odeio-te porque me desiludiste e me difamas como se eu é que fosse a vilã. 
        Odeio-te porque acabaste com tudo o que poderia ter sido e não foi, odeio-te porque na tua presença sinto-me morta. Por dentro e por fora. Porque nos meus olhos já nada se vê para além do vazio que deixaste em mim, para além disso mesmo: Morte. 
        E mataste-me de forma tão cruel. Não te limitaste a espetar a faca, ainda tiveste que a torcer dentro de mim e fizeste questão de deixar feridas por sarar. Fizeste questão de ter sitio onde por sal e, mais uma vez, magoar.
         Odeio-te porque já não te reconheço ! Odeio-te porque me fazes odiar, a ti e a mim. 

terça-feira, outubro 25, 2011

Sentir

        Não existe certo ou errado. Não existe verdadeiro nem falso. Porque nada é concreto nem meramente abstracto. Existes apenas tu. Existo apenas eu. Existe apenas mais um qualquer ser no virar daquela esquina. Mas esse…  esse tu nem vês.  És-lhe indiferente e, no entanto, ele faz parte dos teus dias. Faz parte da rotina que tu tão teimosamente insistes em não mudar. Se a mudasses talvez desses por falta dele. Talvez desses pela minha falta.  Mas tu passas e não vês ninguém. Tu nem a ti te vês. Tu olhas-te ao espelho e não te reconheces nele. A imagem não corresponde à tua idealização. O teu sorriso não torna convincente a negação daquilo que és. Há muito que esse teu sorriso já quase que nem te pertence. Ele não é sincero, não é espontâneo. Tu forças esse teu sorriso de cada vez que tentas enganar o mundo. Tu seduzes com o teu sorriso. E és tão bom sedutor com ele, que te tornas num perfeito manipulador da verdade e da mentira. Numa questão de segundos tens tudo nas tuas mãos, sem o mínimo dos esforços., e brincas com ele como se fosse mais um jogo. E como bom jogador que és, não mostras o baralho. As tuas tácticas são desconhecidas e ao mesmo tempo tão previsíveis. Tu nunca deste nada de ti. Tu nunca procuraste ter algo mais. Tu, na realidade, nunca tentaste ser feliz, nunca experimentaste sequer amar.  Já fingiste por certo, tê-lo feito e convenceste-te a ti mesmo que era de tal forma real que julgaste amar realmente. Mas nunca sentiste. Não sentiste o bater forte no teu peito. Não sentiste os pontapés na barriga. Não sentiste o nervoso miudinho que se sente antes de ver aquela tal pessoa. Aquele que desaparece assim que a tens nos teus braços. Não sentiste medo, facadas no coração por preocupação. Não deste o máximo de ti por outra pessoa. De certo que nunca amaste assim, porque se tivesses amado, hoje não serias assim: egocêntrico, seco, frio. 

segunda-feira, outubro 24, 2011

corpos vazios

        Um sentimento de impotência apodera-se de mim, aos poucos vou perdendo o poder e tudo toma vida própria, As coisas saem fora do meu controlo e eu não sei o que fazer. Perco-me entre o que eu sou, o que devia ser e o que os outros querem que seja... 
        Nada está bem, tudo assume formatos incorrectos daquilo que se era de esperar, nada do que faça está bem e por onde quer que vá, o que quer que seja que eu toque, torna-se cruel e inaceitável. O chão que piso é frágil e um passo mal dado destrói tudo. Mas o "tudo" já estava destruído antes de eu colocar o pé no chão novamente... Inicia-se então uma reacção em cadeia, um efeito dominó em que o meu passado me assombra a cada passo dado. Todo o meu presente e futuro fica contaminado e não importa o que eu faça, não importa a forma como eu tente mudar o rumo, nunca está nada bem. 
        Rapidamente a chama desvanece e já nem sequer há motivos para correr para a manter acesa. Não há motivo, não há força, não à apoio, não há compreensão, nada. Não há nada. O vazio invade-me em pensamentos mais profundos. Há raiva, há pena, há solidão. Há vontade de chorar mais do que há de viver. O desejo de desaparecer torna-se dado adquirido de cada dia. Mas há falta de coragem, há medo, há esperança que tudo mude, que os julgamentos parem e que tudo volte ao normal. Passa-se mais um dia, um dia de sorrisos fingidos, de conversas vazias e de sofrimento por detrás de cada olhar. Passa-se mais um dia de julgamentos, de impotência... e nunca ninguém sabe quem eu sou. 

São corpos vazios, são corpos cheios de nada. São marionetas humanas a troco de nada.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Efeito Borboleta

      Se eu pudesse mudar o meu passado, eu mudaria.
      Não sou como tantas outras pessoas que se sentem orgulhosas dos seus erros. Porque se eu pudesse... Se eu pudesse eu não cometeria os erros que cometi. Eu não magoaria quem magoei e certamente não me iria colocar "a jeito" para me magoar.
      Não pertenço ao clube dos que não se envergonham de aspectos do seu passado, dos que não o deseja alterar, que não se arrependem de cada erro cometido, de cada queda dada... que vêem tudo isto como lições que a vida nos dá e com as quais aprendemos. É claro que com cada erro aprendemos uma lição, mas se eu pudesse voltar atrás, eu mudaria imensas coisas. Havendo a possibilidade de falhar, magoar e a de fazer com que tudo seja correcto e sair ilesa, como posso eu escolher a primeira? Como?
Ainda que acredite que a natureza humana no geral, ou pelo menos a minha, me leve sempre ao caminho mais doloroso, fazendo-me acreditar, por vezes, que tenho uma queda para o que é complicado, não posso acreditar que seja preferível o sofrimento à paz de espírito. Não faz qualquer sentido, pelo menos para mim. 
      É claro que, fazendo a mais pequena das alterações no passado, isso irá ter consequências no futuro, afinal tudo na vida se rege pelas leis da acção-efeito. E isso mudaria todo o rumo da minha vida e, consequentemente, o rumo da vida dos que me rodeiam. Mas ainda que tivesse que pôr em causa tudo o que alcancei até hoje em função de um mero capricho meu, eu preferia fazê-lo. Estaria com a consciência mais tranquila, isso seria certo. Estaríamos todos. Porque querer voltar ao passado pode ser isso mesmo: um gesto egoísta que serve como descargo de consciência. É óbvio que, não podendo voltar ao passado, tenho que aprender a viver com ele.
     Mas, ainda assim, não seria um pedido legitimo ? 

segunda-feira, outubro 17, 2011

Confissões

        Nada é certo. Tudo é inconstante, incoerente, incerto… e as dúvidas vão se instalando. As decisões ficam mais complicadas de tomar e de repente sou invadida por esta insegurança que se vem tornando habitual. Nela tudo me assusta. É andar sem ter chão. É respirar sem ter ar… é ter um nó no estômago e não conseguir dormir. Subitamente já nada faz sentido. Surgem uma série de questões na minha cabeça e não sei que rumo seguir. Nunca soube decidir. Nunca fui boa a tomar decisões, ter que escolher… porque não ter o melhor dos dois mundos? Seria tão mais fácil… A vida é composta de decisões, eu sei disso. Todos nós sabemos e temos que as tomar. Mas a partir do momento que tomamos um decisão tudo o resto muda. As decisões condicionam a nossa vida para sempre. Mas há tantas coisas que eu não consegui controlar na minha vida que, as poucas sobre as quais tenho o controlo, não o sei exercer. Tenho medo. Parvoíce a minha ter medo de algo que tanta gente anseia.
        Por vezes, acho que fico em cima da linha ténue, que separa as boas decisões das más, esperando que venha uma brisa que me empurre para um dos lados. Ao menos poderia culpar o vento por ser mau conselheiro. Culpando-me a mim, tenho apenas que aprender a viver com as minhas escolhas arrependo-me para sempre por não ter escolhido a outra opção. O problema é que se tivesse escolhido a tal “outra opção” provavelmente sentir-me-ia da mesma forma. Coisa idiota esta do pensamento, que nos faz pensar demais e fazer de menos. São os tais erros por defeito.
        Sei que não faz sentido algum aquilo que digo… mas será, ainda assim, possível que alguém me entenda? Os pensamentos e lógicas articulados dentro da minha cabeça fazem mais sentido do que quando deitados cá para fora. Será assim com todos nós? Se assim o for, como conseguem então os outros tomar as suas decisões e viver em “paz” com as mesmas?
        Talvez o meu problema seja pensar de mais no que “poderia ser se…” e não no que é no momento. Talvez… Mas nem disso tenho certeza.  A vida resume-se então a incerteza. A tiros no escuro esperando não magoar ninguém e acertar, única e exclusivamente, no alvo.

        O pior disto tudo, é que quanto mais indecisões tenho, mais penso em ti. Porque eras tu que me guiavas, de certa forma, pelo túnel obscuro que a vida consegue ser. Não eras a luz ao fundo do túnel mas eras os pequenos pirilampos pelo caminho. Agora, mais do que desejo daquele fascinante método de decisão de quando éramos crianças, em que tudo era simples, directo, óbvio, sem rodeios, artifícios ou complicações – o tão usado “um-dó-li-tá”, desejo ter o teu conselho. A tua presença. A tua incerteza poderia ser igual ou pior que a minha, mas tu eras dos que arriscam e que amparam a queda. As más decisões, ou as menos boas, porque tudo tem lado bom e mau, a ti não te assustavam. E se assustavam tu não me mostravas. Eras o porto de abrigo, o pilar. O que me leva a continuar a questionar o porquê de teres ido sem aviso prévio… sem guerra travada, quanto mais batalha vencida. Custa a querer que um dia foste tudo isto para mim, custa a querer que me faças assim tanta falta. Quem diria que a tua ausência me impediria de tomar decisões, de seguir com a vida… Eu sigo em frente, porque o mundo avança. A Terra vai girando em torno do Sol e os dias vão-se passando... No entanto, tenho sempre um pé estancado no passado que não consigo tirar sem ter a explicação para o impensável.
        O pior, a verdade incontestável, é que por muito que eu deseje ter-te de novo, sei que mesmo que voltes, isso não irá acontecer. Porque tu já não és o mesmo. Já não és a pedra que sustenta a construção, mas a pedra que é atirada contra as janelas do meu ser que vai deixando marcas cada vez mais difíceis de sarar. E por isso, EU já não sou a mesma. O que tu fizeste será sempre uma mancha. Ainda que tudo o resto seja adorado e acarinhado pelo meu coração, a tua mancha consegue envenenar até mesmo essas recordações. Cavaste um vazio em mim, vazio que nunca conseguirei preencher. Vazio que me deixará para sempre frágil. Cada vez que visito as ruínas que deixaste em mim é quando me encho de insegurança. É quando tudo se torna incerto, e as decisões difíceis de tomar.

sexta-feira, outubro 07, 2011

Isto é...

É correr sem saber para onde. É saltar para o infinito à espera que haja alguém a amparar a queda. É ter a esperança de que não te vão tirar o chão que pisas. É andar de olhos vendados, e esperar não tropeçar. É não ter certezas e arriscar. É sentir vazio, sufoco. É estar cheio de nada e vazio de tudo. É não fazer sentido e compreender.

quinta-feira, agosto 04, 2011

Erros...

Erros toda a gente comete. É natural, é humano. Cometer os mesmos erros é que já é irracional. É garantir o fracasso daquilo que nunca teve hipotese de sucesso. É a idiotia no seu esplendor. E a idiotia é a esperança de mudança dos ingénuos

quarta-feira, agosto 03, 2011

Eventualidades

Não exigo formulas certas para resultados concretos, mas exigo sentimentos absurdos sem destinos incertos. Não quero desejos fugazes, mas atracções eternas. E se tudo isso ainda te parecer muito, te parecer demasiado exigente, talvez a distância dos corpos seja mais curta que a da mente e do teu coração.

sábado, junho 11, 2011

pretéritos imperfeitos

Fazes-me chorar. Fazes-me ter pena de mim mesma. Fazes-me sobretudo ter saudades. Parece ridículo especialmente depois de tudo o que já vi vindo de ti, mas tenho saudades. Não da pessoa em que te tornaste mas na pessoa que eras nos primeiros anos que passei a teu lado. Costumava admirar a maneira como não tinhas problemas em dizer o que sentias, a forma como te destacavas dos outros por, ao contrário deles, não teres medo de falar o que te ia na cabeça. Pelo facto de seres um amor de rapaz que conseguia ser tão querido que era impossível resistir aquela ternura. São coisas de "puto", talvez, que se vão perdendo com a idade. Aquele olhar meigo, aquele ar querido… talvez essa primeira impressão tenha desaparecido mesmo. E de vez. Contudo eu gostava imenso do apoio que me davas. Dos abraços que me davas. Gostava da maneira como me sentia protegida ao teu lado. Segura. E de repente tudo isso desapareceu. Tiraste-me tudo isso da mesma maneira que se puxa o tapete a alguém para este cair. A questão é que eu não tinha chão onde cair. O meu chão eras tu e tu desapareceste. Assim, sem mais nem menos. Sem explicações. Sem uma única discussão sequer. E eu ainda tentei. Juro que tentei. Lutei contra todo o orgulho e pus todo o amor próprio que ainda me restava de lado só para tentar. Mas mais uma vez deitaste um pedaço de mim abaixo. Mais uma vez tiraste-me o chão… E eu entrei em queda livre. Sem altura concreta para parar, sem momento certo de abrandar.

domingo, maio 08, 2011

Lembranças de mar

Na imensidão do mar encontro a liberdade. Os pensamentos surgem e proporcionam uma reflexão sobre a minha pequenez e até mesmo a minha grandiosidade.

O mar demonstra, por vezes, violência extrema. O mar zanga-se, é cruel, e nós temos medo. Sentimos receio por não o conseguir domar. No entanto, na mesma hostilidade que ele nos transmite encontramos conforto e apercebemo-nos que somos parte de um todo, em tempos desconhecido. Sentimo-nos acolhidos e falamos para o infinito na esperança que nos oiçam e até os mais ínfimos desejos se concretizem. O mar é uma espécie de Deus regente dos nossos destinos.
            O oceano é imenso, como já referi, e tudo o que nos dá, leva; e tudo o que leva, mais cedo ou mais tarde, nos dá. Sobre a forma que menos esperávamos. Por vezes, desejamos algo, pensando que é o que nos faz falta, mas a sabedoria das águas mostra-nos que erramos. Elas que nunca são paradas e já viram mais coisas neste mundo que todas as gerações da espécie humana. Reconhecem em nós todos os segredos, todas as façanhas, angustias, fortuna… Reconhecem em nós, os sentimentos que desconhecemos ter. Não há-de ser por acaso que toda a gente, de uma maneira ou de outra, procura no mar o mesmo: amparo, compreensão, respostas.
            É incrível a capacidade que este tem de nos dar respostas. Não soluções. Respostas às nossas questões. Solução cabe-nos a nós encontrá-la através da interpretação de tais respostas. Contudo, há que ter cuidado. Existe diferença entre respostas que o mar nos fornece e aquelas que queremos ouvir. Ao conversar com o Deus das águas, há que faze-lo sem perturbações de espírito, sem perguntas já respondidas, sem desesperos ou outras causas maiores. O mar louva os conscientes, os racionais sentimentalistas. Todos os outros são ignorados. Não há beleza no fundo do mar que responda a loucos, que afinal somos todos.