Sinto-me a sufocar entre estas quatro paredes, sinto-me fora de mim. Há imensa gente à minha volta, é uma multidão imensa, e estas quatro paredes são tão imensamente pequenas. Gosto de ser eu comigo mesma, gosto de estar cheia de mim. Mas eu mão consigo ser eu se tiver que ser livre de mim.
Estas pessoas não me conhecem, estas pessoas não sabem quem sou mas estão constantemente no meu caminho, aprisionando-me, tornando os dias dificeis de suportar e fazendo com que eu me encha de ódio, de raiva... Fico com pensamentos absurdos dentro de mim.
Eu juro que me sinto presa, juro que a sensação de me estarem a prender os braços com a maior força possível, impedindo-me de mexer, é real. O sofrimento é real. Eu sinto as amarras em mim, apertando os meus braços contra o meu corpo. Os olhos começam a flamejar e começam a encher-se de rios de revolta, mas também de cansaço. Porque é que eu não me sinto em casa, estando em casa? Eu não pertenço aqui. O mais ínfimo vestígio de felicidade, de contentamento, de bem-estar, é aniquilado pela atitude destas pessoas. Matam-me o espírito e só me sinto bem fora daqui.
De repente a minha casa torna-se tudo o resto. Torna-se o mundo envolvente. E nesta minha casa, existem quartos mais obscuros. São quartos obscuros de liberdade. Mas são uma liberdade dependente. Eu entro nestes quartos e torna-se difícil sair, porque o bem estar, a alucinação, a felicidade e despreocupação são sensações difíceis de deixar. Torno-me então dependente delas. Eu não quero sair daqui. Aqui tudo parece mais fácil, aliás, não parece, é. Porque aqui não me sinto aprisionada aos pensamentos cruéis que eles infligem em mim. Aqui deixo a minha mente solta e sou quem eu quero ser. Aqui os meus pensamentos não são absurdos, nem a minha felicidade demasiada. Aqui o mundo é pintado em tons de azul, lá é tão escuro e reprimido que não se vêem cores.