terça-feira, outubro 25, 2011

Sentir

        Não existe certo ou errado. Não existe verdadeiro nem falso. Porque nada é concreto nem meramente abstracto. Existes apenas tu. Existo apenas eu. Existe apenas mais um qualquer ser no virar daquela esquina. Mas esse…  esse tu nem vês.  És-lhe indiferente e, no entanto, ele faz parte dos teus dias. Faz parte da rotina que tu tão teimosamente insistes em não mudar. Se a mudasses talvez desses por falta dele. Talvez desses pela minha falta.  Mas tu passas e não vês ninguém. Tu nem a ti te vês. Tu olhas-te ao espelho e não te reconheces nele. A imagem não corresponde à tua idealização. O teu sorriso não torna convincente a negação daquilo que és. Há muito que esse teu sorriso já quase que nem te pertence. Ele não é sincero, não é espontâneo. Tu forças esse teu sorriso de cada vez que tentas enganar o mundo. Tu seduzes com o teu sorriso. E és tão bom sedutor com ele, que te tornas num perfeito manipulador da verdade e da mentira. Numa questão de segundos tens tudo nas tuas mãos, sem o mínimo dos esforços., e brincas com ele como se fosse mais um jogo. E como bom jogador que és, não mostras o baralho. As tuas tácticas são desconhecidas e ao mesmo tempo tão previsíveis. Tu nunca deste nada de ti. Tu nunca procuraste ter algo mais. Tu, na realidade, nunca tentaste ser feliz, nunca experimentaste sequer amar.  Já fingiste por certo, tê-lo feito e convenceste-te a ti mesmo que era de tal forma real que julgaste amar realmente. Mas nunca sentiste. Não sentiste o bater forte no teu peito. Não sentiste os pontapés na barriga. Não sentiste o nervoso miudinho que se sente antes de ver aquela tal pessoa. Aquele que desaparece assim que a tens nos teus braços. Não sentiste medo, facadas no coração por preocupação. Não deste o máximo de ti por outra pessoa. De certo que nunca amaste assim, porque se tivesses amado, hoje não serias assim: egocêntrico, seco, frio.