sexta-feira, março 30, 2012

Vou ali ser feliz e já volto



"Ontem chorei. Por tudo o que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo o que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei pela guerra quotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. tua. Nossa culpa. Por tudo o que foi e voou. E não volta mais, porque hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, março 29, 2012

Caio Fernando Abreu

‎"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás."

Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, março 16, 2012

atracção fatal (?)

          Eu adoro encostar a minha cabeça no teu peito e ouvir o bater do teu coração, enquanto tu brincas com o meu cabelo e entrelaças os teus dedos nos meus. Adoro sentir o meu corpo empurrado contra o teu,  e sentir como tão organicamente eles se unem. Adoro o teu magnetismo, o teu toque, a gentileza do teu olhar e da maneira como desvias o meu cabelo para me beijares. Adoro a tua capacidade de, tão absurda e involuntariamente, controlares todos os meus movimentos na tua direcção. Tu puxas-me para ti... atrais-me. E eu tenho saudades dessa atracção. Sim, saudade. Ridícula a saudade que eu sinto de algo que me é tão fatal.
Tu matas-me, matas cada pedaço de mim, cada esperança de uma realidade melhor e tão tragicamente me atrais para os teus braços que eu não consigo evitar o meu suicídio. Tu dizes que não fazes nada para eu me sentir assim... só a tua simples existência já me destrói. É uma atracção fatal, Não consigo evitar. Mesmo sabendo que tu és o pior para mim, que és tudo o que há de errado numa relação, mesmo assim, eu não consigo fugir.
          Eu não consigo não saber de ti. Eu tentei, juro que tentei, mas as circunstâncias da vida levam-me sempre a este ponto. A esta prisão. É uma prisão porque não me consigo libertar... Tu não me deixas seguir com a minha vida, e eu não consigo segui-la sabendo que tu estás aqui. Mesmo depois de todas as formas, possíveis e imaginárias, que tu foste capaz de utilizar para me magoar, eu não consigo. Eu não posso confiar em ti, nunca me deste motivos para tal e de todas as vezes em que o fiz tu desiludiste-me, magoaste-me.
         Por vezes penso que nunca deveria de ter deixado que algo ente nós se passa-se, que não deveria ter permitido que aquele primeiro beijo, aquele teu primeiro toque no meu rosto tivesse acontecido. Eu pus-me a jeito para sofrer, como aliás sempre me meto, e agora não consigo sair daqui. E este aprisionamento sufoca-me.

segunda-feira, março 12, 2012

É um desespero humano.

          É ridículo. Ridiculamente estapafúrdia toda esta dinâmica do suposto amor. É inconstante, incoerente, enervante, inquietante e estranhamente injusto. Olhas a tua volta e até aquele amigo que tu pensas que nunca irá ter ninguém, aquele amigo que toda a gente tem, de repente aparece à tua frente enamorado... e tu ficas para trás. A vida deixou-te para trás e o amor passou tão fugazmente à tua porta que nem te viu. e tu questionaste, questionaste se o problema serás tu, serão os outros, será a tua sorte maldita ou será a tua maneira de enfrentares a vida que te cega para todo um mundo de possibilidades. Será o preocupares-te demais com os outros e de menos contigo, será o simplesmente teres desistido de tentar...? É mais fácil ficar à beira, ficar na plateia e não participar, não correndo o risco de nos magoar.
          E depois vem o arrependimento. Arrependimento por teres conhecido pessoas que te magoaram de tal forma que deixaram cicatrizes em ti. Cicatrizes que te impedem de conseguires avançar, de arriscar, e dar o tudo por tudo que o amor tanto exige. Obriga-nos a ser contidos no amor. Mas não existe tal coisa de conter o amor, ou se ama ou não se ama. Ter medo de amar, é não amar. É nunca ter sido amado, ou pelo menos nunca ter sentido que o era,  e por isso também não saber como amar. É um erro crasso da nossa constituição cuja culpa reside na nossa figura paternal: quer seja por elevar tanto a fasquia, resultando daqui uma procura infinita por um homem que a transcenda; quer por a manter tão incrivelmente baixa, fazendo com que tenhamos uma atracção fatal, literalmente fatal, pelos tão típicos fiascos, pelos tão típicos "nadas" que só nos puxam para uma obscuridade imensa e nos fazem sofrer tanto ao longo da vida.
          Às vezes sinto falta das minhas relações falhadas. Não tanto pela relação em si, mas pela sensação de ser amada, de ser desejada, ainda que pudesse ser uma mentira, na qual eu tenta-se, tão teimosa e constantemente, acreditar ou ainda que não nutrisse tal amor pela outra pessoa. Porque acontece... Acontece estarmos tão sedentos de amor que acabamos por não destingir a diferença entre ser amado e amar. Acabamos por nos conformar com o amor de outrem tentando convencer-nos de que os amamos também... Mais do que um conformismo, é um desespero humano por amor.
          De cada relação guardo uma memória, acho que todos nós o fazemos, e em cada memória guardo um carinho especial. Talvez até guarde um desejo secreto de que um dia mais tarde, nas encruzilhadas da vida, nos cruzemos e talvez ai possamos amar os dois na mesma medida e estarmos mais conscientes desse amor. às vezes, tão ingenuamente, penso que todo o tempo que decorre depois de acabar cada uma destas minhas relações passadas, é um tempo necessário para alcançar um fim inevitável de nos voltarmos a encontrar.O problema é que penso o mesmo de quase todas as relações passadas. Dai gostar de manter esta estranha amizade com o meu passado. E depois sussurro-lhe ao ouvido coisas como: Deixa-me. Mas não me deixes eternamente. Deixa-me só neste momento para que eu possa sentir a tua falta e por fim voltar para os teus braços como se fosse da primeira vez.

sábado, março 03, 2012

vocês sabem lá...

          Eu quero acreditar que tu irás mudar, que irás finalmente crescer e atingir a maturidade necessária para perceberes a dimensão das tuas acções. Todos me dizem que é isso que irá acontecer... Mas eu sinceramente, não sei. Custa-me muito acreditar em tal mudança. Depois do que eu vivi, depois do que eu já vi.. depois de tudo o que já soube e confirmei, os meus contos de fadas não me conseguem iludir nesta história. Só irei acreditar nisso quando tiver provas concretas de tal, caso contrário serás sempre o mesmo para mim, uma criança inconsciente que só pensa em si. Já quis acreditar que um dia te aperceberias de todos os teus erros  e que os tentarias, pelo menos, amenizar... Mas agora tenho certezas de que isso nunca irá acontecer. Nunca terás uma consciência minimamente critica que te permita avaliar tal. E irei sempre culpar-te... porque embora o teu desprezo ainda hoje me magoe, estás no teu direito de nunca mais me queres ver, falar, saber de mim. DO que tu não tens direito, é de arruinar a minha vida, de me difamar, de inventar historias. Eu não te dei esse direito, esse poder.
         Já lá vai tanto tempo, tanto tempo desde o inicio deste sofrimento e mesmo assim ele ainda não me largou. Ele ainda me persegue por todos os recantos do meu pensamento. Grande parte das minhas memórias têm, de forma directa ou indirecta, a tua impressão gravada. Algo com o qual eu tenho vindo a aprender a lidar, mas por vezes torna-se inevitável.
         Contudo, o que mais me irrita, aquilo que me deixa fora do meu ser, é o facto de, mesmo depois de tudo o que tu já me fizeste, eu ter saudades do que já foi.