Gosto deste tempo. Gosto do frio, deste nevoeiro invadido pelo cheiro a queimadas. Gosto deste cheiro a tabaco inebriado pela neblina que me cega. Dou passos sem ver o que piso, vou percorrendo caminhos sem saber onde vou. E todo este clima é misterioso e me seduz para dentro de si. São épocas melancólicas. De uma melancolia que me enche o coração. É nesta altura que me sinto abraçada pelo mundo, pela vida. O cheiro... ah como eu venero o cheiro das ruas ! Este cheiro tão característico de Lisboa. Quer seja o fumo do assador de castanhas, quer seja o do cigarro daquela pessoa sentada na esplanada do café. O café... o cheiro de um galão bem quente acompanhado pelo cheiro dos bolos que se manifestam nas montras. É tudo tão enfeitiçante. Cheira a frio!
Há momentos retrospectivos nesta altura do ano. Não porque o Natal esteja à porta e de repente todos se lembrem de ser boas pessoas, não porque o ano esteja a acabar e eu tente rever todos os erros que cometi este ano para não os voltar a repetir no próximo, não. Nada disso. É neste altura do ano em que, abraçada por este frio e estes cheiros reconfortantes, me encontro em mim. No resto das estações eu perco-me no frenesim, na euforia, nas idealizações dos outros. Agora focalizo-me em mim. Sou eu e o nevoeiro. Sou eu e mais alguém que não vejo. Sou eu, simplesmente eu, sem artificios ou poses politicamente correctas. Sou eu despida de preconceito, só eu e este nevoeiro branco.
segunda-feira, dezembro 12, 2011
sexta-feira, dezembro 02, 2011
entranhas... o que resta delas
Estou partida. Estou sem vida. Sou um farrapo velho sem alma e coberto de feridas. Perdi-me. Deixei-me perder. Sinto-me encurralada, e aqueles, aqueles que dizem que estarão sempre por perto, não os estão. Foram os primeiros a abandonar o barco. Eles culpam-me pelos seus azares, e eles não me protegem. Na realidade obrigam-me a sujeitar-me a uma, e outra violação do meu ser. Eu sou um produto com defeito. Eu não tenho arranjo. Eu estou desfeita e não me consigo recompor. Sinto-me uma criança abandonada. Ninguém quer saber... e eu vou ficando insensível à vida. Neste momento a vida doí demasiado.
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