É ridículo. Ridiculamente estapafúrdia toda esta dinâmica do suposto amor. É inconstante, incoerente, enervante, inquietante e estranhamente injusto. Olhas a tua volta e até aquele amigo que tu pensas que nunca irá ter ninguém, aquele amigo que toda a gente tem, de repente aparece à tua frente enamorado... e tu ficas para trás. A vida deixou-te para trás e o amor passou tão fugazmente à tua porta que nem te viu. e tu questionaste, questionaste se o problema serás tu, serão os outros, será a tua sorte maldita ou será a tua maneira de enfrentares a vida que te cega para todo um mundo de possibilidades. Será o preocupares-te demais com os outros e de menos contigo, será o simplesmente teres desistido de tentar...? É mais fácil ficar à beira, ficar na plateia e não participar, não correndo o risco de nos magoar.
E depois vem o arrependimento. Arrependimento por teres conhecido pessoas que te magoaram de tal forma que deixaram cicatrizes em ti. Cicatrizes que te impedem de conseguires avançar, de arriscar, e dar o tudo por tudo que o amor tanto exige. Obriga-nos a ser contidos no amor. Mas não existe tal coisa de conter o amor, ou se ama ou não se ama. Ter medo de amar, é não amar. É nunca ter sido amado, ou pelo menos nunca ter sentido que o era, e por isso também não saber como amar. É um erro crasso da nossa constituição cuja culpa reside na nossa figura paternal: quer seja por elevar tanto a fasquia, resultando daqui uma procura infinita por um homem que a transcenda; quer por a manter tão incrivelmente baixa, fazendo com que tenhamos uma atracção fatal, literalmente fatal, pelos tão típicos fiascos, pelos tão típicos "nadas" que só nos puxam para uma obscuridade imensa e nos fazem sofrer tanto ao longo da vida.
Às vezes sinto falta das minhas relações falhadas. Não tanto pela relação em si, mas pela sensação de ser amada, de ser desejada, ainda que pudesse ser uma mentira, na qual eu tenta-se, tão teimosa e constantemente, acreditar ou ainda que não nutrisse tal amor pela outra pessoa. Porque acontece... Acontece estarmos tão sedentos de amor que acabamos por não destingir a diferença entre ser amado e amar. Acabamos por nos conformar com o amor de outrem tentando convencer-nos de que os amamos também... Mais do que um conformismo, é um desespero humano por amor.
De cada relação guardo uma memória, acho que todos nós o fazemos, e em cada memória guardo um carinho especial. Talvez até guarde um desejo secreto de que um dia mais tarde, nas encruzilhadas da vida, nos cruzemos e talvez ai possamos amar os dois na mesma medida e estarmos mais conscientes desse amor. às veze
s, tão ingenuamente, penso que todo o tempo que decorre depois de acabar cada uma destas minhas relações passadas, é um tempo necessário para alcançar um fim inevitável de nos voltarmos a encontrar.O problema é que penso o mesmo de quase todas as relações passadas. Dai gostar de manter esta estranha amizade com o meu passado. E depois sussurro
-lhe ao ouvido coisas como: Deixa-me. Mas não me deixes eternamente. Deixa-me só neste momento para que eu possa sentir a tua falta e por fim voltar para os teus braços como se fosse da primeira vez.